No dia 22 de março foi celebrado o Dia Mundial da Água
Uma data simbólica e que ganha novos contornos, após 2 anos de uma das piores estiagens da história recente do país.
De acordo com informações do Map Biomas,a superfície coberta com água no Brasil teve uma redução de 15,7% desde o início dos anos 90. Segundo a pesquisa, valores absolutos indicam uma queda de aproximadamente 20 milhões de hectares para 16,6 milhões de hectares em 2020. (MAPBIOMAS, 2021)
Um desafio que afeta a todas as pessoas, mas de forma desigual, tão desigual é o acesso a outros direitos básicos. Mas fato é que o tema tem que ser visto com mais atenção.
Todos os anos, reforçamos a importância de reduzir nosso gasto doméstico. Hoje o convite é diferente.
Lhe convidamos a olhar um panorama mais geral e refletir: seria o consumo doméstico, a grande causadora da crise hídrica?
Pra falar a verdade, não precisamos refletir muito, os dados estão bem evidentes.
Em primeiro lugar, para compreendermos as causas, é importante entendermos as relações de consumo:
O que – realmente – está gerando o maior consumo de água no país?
De acordo com dados de 2017 da Agência Nacional das Águas, considerando o uso consuntivo – aquele que retira água do manancial para sua destinação – a irrigação e o uso animal juntas, somam quase 80% do total consumido. Este valor é aproximadamente 10x maior que o consumo para abastecimento urbano, com valores de cerca de 8,6% no total. (ANA, 2017, apud ANA, 2019)
Além disso, é importante analisarmos o contexto desta atividade produtiva e seu impacto nos recursos hídricos no país.
Dados do relatório A Dinâmica Da Superfície De Água Do Território Brasileiro, apresentado pelo Map Biomas em 2021, indica que a expansão da chamada “fronteira agrícola”, termo que indica a conversão de áreas de floresta para agropecuária, bem como a construção de represas, contribuíram para a diminuição do fluxo hídrico.
O Cerrado hoje representa um retrato deste contexto. Responsável por abastecer 8 das 12 bacias hidrográficas – e que já teve mais de 50% de seu bioma original alterado – a agricultura cresceu 5,6x entre 1985 e 2020, enquanto a superfície de água natural teve uma perda de 473 mil hectares no mesmo período. (MAPBIOMAS, 2021)
Ou seja, os modelos utilizados nas cadeias de produção agropecuária trazem consigo dois desafios que precisam de atenção da nossa parte. Primeiramente, o fato de que tais modelos necessitam de grandes volumes de água irrigada para atender às demandas produtivas. Além disso, é importante estarmos atentos às mudanças de uso do solo. A conversão de florestas em atividades agrícolas muda a composição do bioma, alterando os sistemas de raízes que compõem o solo necessárias para a retenção hídrica e, consequentemente, a capacidade do bioma de irrigar as bacias hidrográficas brasileiras.
Isso, somado ao aumento do desmatamento e incêndios florestais e às mudanças climáticas, cria a receita ideal para um cenário de seca cada vez mais intensa.
Além disso, da água que chega às cidades para o consumo das famílias, há muita perda pelo caminho, de acordo com dados Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, o índice de perdas de água chega a 40% no Brasil.
Ou seja, até a água chegar em seu apartamento, boa parte se perdeu nos sistemas de abastecimento. Um problema que não afeta muito grandes edificações que reservatórios para períodos de rodízio.
O consumo doméstico não é a grande causa, mas isso não significa que não seja preciso economizar – pelo contrário
Se enfrentar um dia precisando controlar o consumo de água, precisamos pensar que quem mais sofre em situações de crise de abastecimento são as famílias mais pobres. Um desafio que se torna maior em um cenário em que aproximadamente 10% dos domicílios brasileiros não contavam com abastecimento de água diariamente, de acordo com dados de 2019 do IBGE. (G1, 2019)
Portanto, neste Dia Mundial da água, é fundamental entendermos a importância de reduzirmos nosso consumo direto e indireto. Mas não apenas isso.
O território de superação da crise está na participação cidadã, no consumo doméstico, nas nossas escolhas de consumo no dia-a-dia e acompanhando quem trabalha na gestão de nossa cidade estado e país, para garantir políticas públicas que mantenham a qualidade dos ecossistemas e a garantia deste direito humano básico à comunidade de vida que habita o planeta.
Referências:
ANA – Manual de Usos Consuntivos da Água no Brasil. 2019.
G1 – Cerca de 18,4 milhões de brasileiros não recebem água encanada diariamente, aponta IBGE. 2020
MAPBIOMAS – A Dinâmica Da Superfície De Água Do Território .2020.
MAPBIOMAS – Brasil Revelado 1985-2020: As transformações no Cerrado nos últimos 36 anos. 2021.
TRATA BRASIL – Perdas de água 2021 (snis 2019): desafios para disponibilidade hídrica e avanço da eficiência do saneamento básico. 2021.